31 de maio
de 1965. Nas bancas, a Folha anunciava: “Corre hoje o último trem de Tucuruvi a
Guarulhos”. Era o fim do Trenzinho da Cantareira, o principal meio de
transporte da região norte de São Paulo durante seis décadas. O Tramway ligava
o centro da cidade à Serra da Cantareira e a Guarulhos. A linha chegou a ter 45
estações e paradas e um ramal para a base aérea de Cumbica. No auge do
movimento, em 1941, transportou 4 milhões de passageiros. A ferrovia foi
inaugurada em 1894 apenas para
Hoje, apenas
uma parte da estrutura da estação Guarulhos permanece, abrigando uma unidade da
Guarda Civil local.
Aproveitando
o traçado ferroviário, a prefeitura paulistana construiu a ponte Cruzeiro do
Sul, sobre o ainda limpo rio Tietê, e implantou vias para o trânsito de
veículos. O custo do transporte público na zona norte subiu. As novas linhas de
ônibus cobravam o dobro do preço do bilhete do trem. Para substituir o Trenzinho,
em 1975 a linha 1-azul do metrô chegou a Santana, enquanto a extensão ao
Tucuruvi foi entregue em 1998. Já as obras da ligação férrea entre São Paulo e
o aeroporto de Guarulhos, pela zona leste da cidade, começaram no final de
2013. Segundo a CPTM, ao custo de R$ 1,788 bilhão, “a previsão é que a linha
13-Jade entre em operação a partir de 2017”, 52 anos após a última viagem do
trem da Cantareira. O maquinista aposentado Joaquim dos Santos, 87, trabalhador
na ferrovia até 1964, afirma que “interesses econômicos para construir avenidas
e implantar linhas de ônibus” causaram o fim da linha. Antes de chegar a
maquinista, Joaquim foi limpador de locomotiva e foguista, alimentando a
fornalha do trem. Rindo, ele explica o apelido de Maria Fumaça dado às composições:
“além da fumaceira, o trem soltava fagulhas que faziam furinhos nas roupas das
pessoas. Era cheiro de queimado a viagem toda”.
O aposentado diz que o
Trenzinho também tinha a fama de casamenteiro. Ele mesmo foi vítima do “cupido
ferroviário”. Numa tarde ensolarada, próximo à estação Tucuruvi, o maquinista
avistou uma “simpática moça” no quintal de uma casa vizinha aos trilhos. Dos
primeiros acenos tímidos, ele passou a acionar o apito sempre que o trem se
aproximava daquela casa. “No começo, o irmão dela se opôs ao namoro, mas os
pais consentiram e logo casamos”, relembra. O casal, Joaquim e Josefa, está
junto há 65 anos.
Sidney
Pereira, 59, é
correspondente de Vila Maria - sidneypereira.mural@gmail.com
fotos - reprodução: Panoramio/Estação Ferroviarias/Expo trem das Onze.
fotos - reprodução: Panoramio/Estação Ferroviarias/Expo trem das Onze.