A sequência da ação
direta que teve início nos dias 16
e 17 de junho, aconteceu nos dias 23 e 24 de junho. Os primeiros dez metros de
graffiti mostram um índio e uma índia resgatando jaçanãs, capivaras, preás,
sapos, canários, morcegos, vagalumes, jararacas e um ilustre cabuçu, que
significa “vespa grande”em tupi-guarani, o nome do nosso querido rio. A equipe
de graffiti composta por Evol (curador), Espinho, Feik e Nem mandou muito bem
na idéia de desenhar índios num bote, resgatando animais que existiam nas
margens do rio no passado.
Isso me faz lembrar de uma frase do cacique Seattle,
de uma tribo norte americana chamada Duwamish,
numa carta que ele escreveu em resposta à proposta do presidente dos EUA, de
comprar as terras indígenas:
"Sou um
selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de
bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a
tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um
fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós -
os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o
homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma
grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo
acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si."
Para aqueles que quiserem ver a carta na íntegra procurem por (Carta do Cacique Seattle).
Outro componente imprescindível para a nossa ação foi a estrutura de
segurança utilizada pelos grafiteiros. Andaimes (tablado) e suportes (módulos)
em bambú. Uma criação do permacultor Rafael Bordon do projeto Povo Brasileiro.
No inicio, concentrávamos a ação no graffiti, mas após conhecermos o
Rafa e seu conceito de construções sustentáveis, a ação passou a ter duas
vertentes: Graffiti Temático e Estrutura de Segurança Ecológica. Inclusive na
cultura asiática o bambú simboliza flexibilidade e resistência, e tem inúmeras
aplicações, da construção civil ao artesanato.
A estrutura é constituída de quatro módulos com toras grossas de bambús de aproximadamente 4 polegadas, que abraçam o muro do rio e dão sustentação para três tablados (pisantes) de 3 metros de comprimento cada, sobres os quais os grafiteiros ficam em cima para poderem desenhar nas paredes internas do rio. A estrutura é segura, firme, flexível, fácil de manusear e pode ser deslocada ao longo do leito do rio, onde houver muro com as medidas do trecho em questão, conforme o desenvolvimento da obra de arte.


Durante a ação houve o monitoramento ambiental da qualidade da água do Rio Cabuçu de Cima, no trecho da intervenção, através de coleta de amostra realizada pela profissional,
bióloga e gestora ambiental Jane da Silva Flor.

A amostra será encaminhada para laboratório credenciado que analisará a concentração de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) existente na amostra.
Simplificadamente, DBO representa o potencial ou a capacidade de uma massa orgânica “roubar” o oxigênio dissolvido nas águas. Este roubo é resultado da atividade de microorganismos que se alimentam da matéria orgânica. Ou seja, quanto maior o DBO, maior a quantidade de carga orgânica (poluição) proveniente de despejo de esgotos sem tratamento, principalmente de esgotos domésticos.
Para dar tom à ação o sound system do CICAS representou injetando
rock’n’roll, rap, hardcore, psicodelia, reggae, progressivo e tudo o mais de
musica de qualidade no ouvido da galera.
Teve até free stile de bike executado pelo gordo.
E nesse embalo a cooperação de trabalho para a realização da intervenção foi ímpar, integrada, unida e perseverante. Colocamos dois pontos de luz na estrutura, daí ficamos até altas horas da noite empenhados na atividade.




Poucos municípios brasileiros
possuem agenda 21 local e, não tenho conhecimento, de nenhum município que
tenha realizado ações de intervenção como essa que nós, sociedade civil
organizada, estamos realizando. A agenda 21 finalmente saiu dos fóruns de
discussão presos dentro de quatro paredes, para a ação direta! Estamos criando
uma nova proposta de agenda 21 local, que começa na ação, para depois ser
escrita.

E domingo 01 de julho tem mais!!!
Texto: Ga. Marcos Vinicius Moreira Borges
Fotos: Amigos da Agenda 21 do Vale do Rio Cabuçu